|
Edgar
Rodrigues, historiador anarquista
Nunca tive oportunidade de conhecer
pessoalmente o companheiro Edgar Rodrigues, todavia conheço o
seu talento pessoal através da correspondência que com ele
mantive em diversas ocasiões.
O meu interesse pelo acesso a algum dado preciso ou
a maneira de conseguir alguns dos seus livros, permitiram-me
vê-lo sempre como um companheiro de grande generosidade.
|
|
Os
meus escassos conhecimentos do desenvolvimento do movimento anarquista
em Portugal e no Brasil devem-se, em grande medida, ao seu trabalho
histórico incansável
Possivelmente a sua metodologia histórica
não incorpora as grandes linhas teóricas ou
programáticas desenvolvidas pelas diferentes escolas
históricas que têm disputado a hegemonia da
investigação nesta disciplina. Porém, não
existem dúvidas, que os seus estudos não estão
isentos de um plano de conjunto, de uma teoria desenvolvida pelos
historiadores anarquistas, cujo paradigma seriam os trabalhos de Max
Netlau.
Não me refiro unicamente à
paixão que o move para transformar num manifesto a
evolução histórica de uma ideia através do
desenvolvimento orgânico de um movimento tentou
materializá-la em factos concretos. Quero referir-me
principalmente ao abandono das grandes concepções
abstractas da história, para colocar-se na
descrição dos factos e dos seus protagonistas. Persiste
em definitivo o intento de fazer história dos que lutaram por
uma ideia, a partir da perspectiva da sua própria
evolução pessoal.
Este é, na minha opinião, o
método que Edgar Rodrigues utiliza no seu trabalho. A sua
maneira de fazer história põe em relevo os personagens
que protagonizaram a luta pela consecução de um ideal;
recupera o que ficou esquecido nos arquivos uma imensa quantidade de
documentos que sustentam um rico e variado movimento que deu vida a uma
luta incansável contra a tirania e a exploração.
Com uma paciência infinita vai tecendo uma tupida rede de
relações que nos mostram como os anarquistas brasileiros
e portugueses entendiam a organização, a forma de
interpretar o pensamento dos mestres e como desenvolveram as suas
próprias teorias de luta. Na barricada, na oficina, na
fábrica: formando parte de um grupo ou pertencendo a uma
organização sindical ou especificamente anarquista, Edgar
Rodrigues, testemunha e protagonista também de muitos dos factos
que relata, vai desbravando com prolixa minuciosidade, essa
história interminável que deu vida a um poderoso
movimento.
Quem deseja conhecer o desenvolvimento
histórico do movimento anarquista em Portugal e no Brasil,
deverá necessariamente ler os seus livros, como também
aqueles que quiserem aprofundar em algum aspecto da sua
história. A sua obra é uma inesgotável fonte de
dados que nos brinda a todos. Porém, esta abundante bibliografia
não fez deste homem um ser presunçoso; a sua
modéstia é proporcional à sua incansável
actividade. Dá-me a impressão que para ele foi uma
actividade gratificante com a qual se sente justamente recompensado.
Eu gostaria, creio que a muito de nós
gostaríamos, que continue o seu trabalho. O último
trabalho que conheço, Universo Acrata, dá-nos uma ideia
do que pode ainda realizar. Aos 80 anos pode tranquilamente olhar para
trás e sentir-se orgulhosso, tanto pela sua
participação directa na luta contra a
exploração, como pela forma que resgatou essa mesma luta
do esquecimento. Esse reconhecimento, que assumo com muito gosto,
é o mínimo que podemos oferecer a este
companheiro que não duvidado em dedicar grande parte da sua vida
a lutar com o seu corpo e a sua mente contra o sistema capitalista. Por
muitos anos. Saúde,
Paco Madrid
(Valência)
|
|
|